40 anos depois | A história da obra-prima de Amália | Um livro de 88 páginas, inclui 2 CD
Álbum original remasterizado, Raridades e 15 gravações inéditas
Textos de: Vítor Pavão dos Santos, Sara Pereira, Salwa Al-Shawan Castelo Branco, Margarida Mercês de Mello, Frederico Santiago e David Ferreira
"Quando, há 15 meses, começámos a preparar esta edição, vimo-nos colocados perante duas questões: qual era o material raro ou mesmo inédito que ajudaria a compreender melhor o apogeu de Amália na altura da gravação e publicação de “Com Que Voz”, para muitos a maior das suas obras-primas? E como explicar que um disco gravado em dois dias no início de ’69 e logo considerado pelo editor como algo de extraordinário fosse publicado apenas 14 meses mais tarde, em Março de ’70?
Para a primeira tarefa, Frederico Santiago, cantor lírico apaixonado pela obra de Amália, reuniu um conhecimento invulgar de gravações conhecidas e mesmo não publicadas a um ouvido treinado para detectar o que escaparia à maioria de nós e estabeleceu com o lendário técnico Hugo Ribeiro e a jovem arquivista Eliana Bernardes, ambos da Valentim de Carvalho, a cumplicidade que lhe tornou possível passar do que já sabia à intuição, daí à descoberta de gravações esquecidas e finalmente à mistura, tratamento e/ou organização de muito material inédito. Já a questão das datas se revelou mais complicada.
Ao longo de muitos meses, o investigador João Brito, habituado a frequentar arquivos e periódicos antigos, leu todas as edições do “Diário Popular” e da revista “Rádio e Televisão” publicadas em 1969 e 1970, chegando a duas conclusões: data de Março de 1970 a publicidade com que a Valentim de Carvalho apoiou a publicação do LP “Com que Voz”, o que parece confirmar ser esta a data de edição original; mas é quase inexistente a referência ao álbum na imprensa consultada, muito mais reocupada com as grandes viagens que marcam a actividade de Amália nessa época.
Há mais, dizem-nos Paulo Seco e Eliana Bernardes: uma folha de requisição de capas de 5 de Fevereiro de 1969, sugerindo uma edição seguramente anterior...! Brito chegou a questionar se a explicação de tão grande compasso de espera se não encontraria na operação da irmã mais nova de Amália, em ‘69; mas isso mais depressa levaria (como levou) ao cancelamento de espectáculos do que ao adiamento duma edição. E sublinhou uma coincidência: 1969 foi marcado pela investigação que as Actividades Económicas conduziram contra o Mercado Discográfico, acusado de manter os preços artificialmente altos. Explicaria isso um atraso de edição? Nada nos permite confirmar – ou desmentir – essa hipótese. Maria Virgínia Pereira, que em 69/70 trabalhava no departamento gráfico da Valentim de Carvalho, acrescenta uma peça, talvez decisiva, ao puzzle: Esse disco atrasou-se muitos meses! Queria-se uma capa especial, falou-se com uma tipografia diferente, discutiram-se orçamentos, tentou-se ter o nome da Amália em relevo, o que acabou por ser impossível. E o disco falhou o Natal de ’69? Talvez, e se foi esse o caso, passou para a Páscoa seguinte..."
David Ferreira