2010

Ao jeito do espírito profético catequista que nos encoraja a partilhar o fogo dos nossos corações, neste disco a profecia é a mesma mas o intuito é outro. O fogo é composto por reagentes emocionais e carnais, perverte-nos e liberta-nos, mostra-nos que o caminho a percorrer deriva de impulsos que não devem ser recalcados, porque ao fazê-lo somos corrompidos por algo que não nos pertence e perdemo-nos no fumo. Nem Deus nem o Diabo moram aqui, isso pertence ao folclore popular que nos engana. Aqui mora o Homem e o Corpo.

 

“Share the fire” é o mote para o segundo disco dos Murdering Tripping Blues.

 

O disco foi produzido e misturado por Boz Boorer (Morrissey, Polecats, Jools Holland, etc.) nos Serra Vista Studios em apenas 7 dias. A celeridade do processo e o isolamento, proporcionado pela Serra de Monchique, permitiram materializar as canções de forma mais instintiva deixando-as mais humanas, rejeitando manobras de “embelezamento”. Não existem artifícios neste disco, o que não faz dele um manifesto em prol do despojo mas sim uma vontade intrínseca e inata que o grupo tem de “nudez”. Até na colaboração do músico britânico Terry Edwards (Gallon Drunk, Nick Cave, PJ Harvey, etc.), nas três últimas faixas do disco, essa vontade é evidente. O seu saxofone não acrescenta as figuras de estilo nem os maneirismos habituais do instrumento, funde-se nas musicas de forma crua e descomplexada, intensificando a experiência que estas proporcionam. Por outro lado, a bateria de Johnny Dynamite e o teclado de Mallory Left Eye tornaram-se mais penetrantes complementando o frenesim energético e dando assim uma nova liberdade a Henry L. Johnson trazendo ao grupo outra intensidade.

 

Os Murdering Tripping Blues são: Henry L. Johnson (voz e guitarra), Mallory Left Eye (voz e teclas) e Johnny Dynamite (bateria)