«Dêem-me duas velhinhas, eu dou-vos o universo» foi o título escolhido por Tiago Pereira para este álbum, que considera inédito no mercado nacional: «É a primeira vez que um disco destes de música portuguesa é editado num mercado da música pop», disse à Lusa.
O álbum sai com o selo da Optimus Discos, que tem editado e disponibilizado, de forma gratuita, na Internet, álbuns e EPs de vários artistas portugueses, sobretudo do universo pop rock.
Tiago Pereira apresenta-se como o curador deste disco, a figura que fez as escolhas das 26 canções tradicionais, que espelham a riqueza e diversidade cultural e etnográfica de um país geograficamente pequeno como Portugal.
Apesar do título dar a entender que as canções são interpretadas por pessoas mais velhas, na verdade as recolhas de Tiago Pereira revelam alguma vitalidade na transmissão oral da tradição para os mais novos.
 
«São versões de versões, de muitas delas, já não sabemos onde andam os originais, mas estão lá, existem. A minha intenção foi: "Eu dou-vos isto e agora remisturem"», afirmou Tiago Pereira, desafiando os músicos portugueses a pegarem nestas músicas e a contaminarem-nas com outros géneros.
 
Em «Dêem-me duas velhinhas, eu dou-vos o universo» estão, por exemplo, as Adufeiras de Monsanto, o Rancho de Cantadores da Aldeia Nova de São Bento, o Grupo Folclore de Porto Santo, as Moças Nagragadas e Adélia Garcia, habitante da aldeia transmontana de Caçarelhos, a mulher que o etnomusicólogo Michel Giacometti gravou nos anos de 1960.
O álbum termina, propositadamente, com uma «contaminação» entre música tradicional e urbana, com as cantoras dos Ecos Tradicionais a interpretarem a música «Fiadouro», acompanhadas de um beat boxer.
Todas as músicas deste disco foram gravadas por Tiago Pereira para os diversos projetos cinematográficos que tem assinado, desde há mais de uma década, em torno da música tradicional portuguesa.
Tiago Pereira, de 40 anos, é atualmente um dos mais ativos guardadores de memórias da música tradicional portuguesa.
Rejeita a ideia de ser «um novo Michel Giacometti», mas assumiu a tarefa de fazer um levantamento do «património musical imaterial português», percorrendo milhares de quilómetros de norte a sul do país, passando pelas ilhas, gravando cidadãos anónimos, grupos profissionais e amadores.
É o fundador do projeto A Música Portuguesa a Gostar Dela Própria - plataforma musical com dezenas de vídeos com artistas portugueses, do pop rock ao tradicional - e de filmes como «Não me importava morrer se houvesse guitarras no céu», «Sinfonia Imaterial», «Quem canta seus males espanta», «Folk-Lore» e «11 burros caem no estômago vazio».
Atualmente prepara o filme «Cantam as filhas da Rosa», documentário sobre a viola campaniça, um instrumento tradicional do Alentejo.
 

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