Quem recorda Tó Trips (Dead Combo) nas guitarras dos Amen Sacristi ou como líder dos Lulu Blind, ainda não está convencido da “transformação”. O homem que gritava em palco, com a guitarra abaixo dos joelhos, é o mesmo que hoje se debruça sobre o dobro resonator ou a guitarra acústica, silencioso, aparentemente alheio ao rumor do público.
O que aconteceu? Escolha-se um motivo: amadurecimento, necessidade de introspecção, cansaço provocado pelo excesso de electricidade. São todos plausíveis, mas enuncie-se o mais “prosaico”: os seus gostos, os seus interesses musicais modificaram-se. Prudência. Mesmo nos Lulu Blind, Tó Trips arranjava tempo para sacar de canções “acústicas” e a energia do rock ainda chispa, com violência, nos Dead Combo.
Acontece que na sua obra a solo, as cordas da guitarra acústica, a ressonância do instrumento e a solitude dos acordes tornaram-se soberanos. E a identidade musical, a “voz” de Tó Trips, tem-se construído, progressivamente, com as melodias, os ritmos, as composições, as possibilidades e os acasos que habitam a música acústica. Não se trata de um monólogo sonoro, pois, desde então, Trips tem conversado com Carlos Paredes, Joseph Spence, a Andaluzia, Peter Walker ou o blues africano – sem privilegiar ninguém.Ouve-os a todos, com o mesmo agrado e atenção. O seu fito tem sido apenas um: criar música nova a partir dos gostos ou dos afectos que partilha nessas conversas.
Guitarra Makaka: Danças a um Deus Desconhecido, o seu novo trabalho, é música nova, que evoca a tristeza lânguida das mornas de Cabo Verde, a sofisticação ditosa da música do Mali ou uma Lisboa que, numa alegria envergonhada, convida o Mediterrâneo para um baile de verão. É isso que esta noite promete, aclarada por temas do novo trabalho. Ao som de uma guitarra.

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