Na sua estrutura musical, “A Gramática da Paixão Dramática”, segundo disco do ALGODÃO, é um trabalho claramente mais aberto ao mundo do que o anterior “Uma Falaciosa Noção de Intimidade”.

Carlos Nobre deixou-se contaminar pelas referências de Nelson Correia e Gil Pulido, instrumentistas almadenses que acompanham o vocalista desde a primeira apresentação do projecto ao vivo em Outubro do ano passado, contribuindo agora estes elementos com várias composições e arranjos, sendo que Gil Pulido acaba por assegurar a maior parte do trabalho de produção. A palavra dita continua a ter aqui uma preponderância rara, mas agora alia-se ao canto, que, sendo por vezes tímido, é sempre íntimo.

O título (frase retirada do tema que abre o álbum, “Tempestade”) acaba por espelhar um elemento recorrente ao longo do disco: o drama. Um drama algo pueril - a escolha da capa é tudo menos inocente - mas também adolescente ou aparentemente amadurecido. Assim, aqui cabem relações condenadas, amizades doridas, amores não retribuídos ou saudosos, o deslumbramento da paternidade, uma tosca e ingénua declaração a uma actriz de cinema ou mesmo um duro e desencantado auto-retrato de um adicto.

De referir as colaborações de Margarida Pinto (Carlos retribuiu o convite feito pela cantora aquando da gravação do seu disco “Apontamento”) no dueto agridoce “Uma Mulher”, e da soprano Catarina Molder, que empresta a sua voz celestial a “A Felicidade é, assim, Alice”. De resto, esta faixa, a par com “Apenas na Primavera”, marca o regresso da dupla de composição dos irmãos Carlos e João Nobre (que compôs, tocou e produziu a música de ambos os temas), algo que não acontecia desde a gravação daquele que foi o último disco dos Da Weasel. Mais acústica ou mais electrónica, mais delicada ou mais bruta, esta é “A Gramática da Paixão Gramática” do ALGODÃO.